O objectivo do tratamento do Lúpus é a prevenção do “ataque” dos órgãos vitais e a manutenção da doença inactiva. O plano terapêutico inclui os fármacos, o exercício e o repouso adequados, a dieta e a evicção da exposição à radiação ultravioleta e do stress. TERAPÊUTICA FARMACOLÓGICA Os fármacos são necessários para a maioria dos doentes com Lúpus e constituem ainda a forma mais eficaz de tratar as formas graves de Lúpus. Estes podem mudar frequentemente segundo as fases da doença. Alterações aos tratamentos prescritos pelo médico (doses, horários ou fármacos) devem ser apenas efectuadas com o acordo do médico assistente. O não cumprimento desta recomendação pode agravar a doença e torna a avaliação da evolução da doença difícil. Os anti-inflamatórios (como a Aspirina®, o Naproxen, o Naprosyn®, o Diclofenac, que diminuem a inflamação, o Voltaren®, o Brufen®, o Nimesulide, o Nimed®,…) (combatendo assim o principal efeito do Lúpus), mas são também antipiréticos (diminuem a febre e os sintomas acompanhantes desta) e analgésicos (diminuindo a dor). Estão sobretudo indicados durante os surtos (sobretudo quando existem dores articulares, febre, cansaço,…). Os principais efeitos secundários são os problemas de estômago. Estes podem ser evitados ou minorados com a ingestão destes medicamentos após as refeições ou acompanhada por medicamentos que protegem o estômago (Omeprazol, Gasec®, Losec®, Proton®, Ranitidina, Peptab ®, Zantac®, Sucralfato, Ulcermin®,…). O seu uso prolongado também pode provocar diminuição da função dos rins, pelo que devem ser usados com precaução nos doentes com problemas renais. Os anti-maláricos (fármacos inicialmente usados contra a malária, como o Plaquinol®“ ou a Resoquina®“) são frequente e eficazmente usados no Lúpus (sistémico e discóide) mesmo nas fases de remissão, como estabilizadores do sistema imune, como estimuladores da resistência à exposição solar e como “poupadores de corticóides” (diminuição das doses de corticóides necessárias para o controlo da doença), embora não se saiba exactamente qual o mecanismo de acção destes fármacos nesta doença. Os efeitos secundários mais frequentes são as náuseas, os vómitos e a diarreia. Podem ser utilizados durante largos períodos, mas o uso prolongado pode provocar problemas oftalmológicos. Na maioria dos casos estes são reversíveis com a suspensão precoce do tratamento, pelo que a sua utilização deve ser acompanhada por uma observação (pelo menos) anual pelo oftalmologista, mesmo quando não existam queixas de diminuição da visão, visão turva ou pontos cegos. Os corticóides (Rosilan®, Meticorten®, Lepicortinolo®, Solu-Dacortina ®,…) são fármacos frequentemente usados no tratamento das formas graves de Lúpus. Estão indicados em muitas manifestações graves (renais, pulmonares,…) e nalgumas formas menos graves (cutâneas, articulares,…), muitas vezes sob a forma de pomadas. São formas sintéticas de hormonas que as glândulas supra-renais do nosso corpo naturalmente produzem para fornecerem força e potência extras ao corpo nos momentos de necessidade. São os mais potentes anti-inflamatórios disponíveis. O seu uso prolongado pode provocar efeitos secundários tais como aumento de peso, inchaço da face, mãos, aumento dos pêlos, pele fina, feridas ou nódoas negras fáceis, dores musculares, psicoses (doenças psiquiátricas), osteoporose (“adelgaçamento” dos ossos), depressão, aumento da pressão arterial, cataratas, diabetes, aumento do risco de infecções ou hemorragias do estômago. Qualquer tipo de cirurgia ou traumatismo pode implicar uma necessidade de aumentar as doses de corticóides, quando o doente estava sob esta terapêutica previamente. As doses só devem ser estabelecidas, alteradas ou suspensas com o acordo do médico assistente. A suspensão de um tratamento prolongado implica sempre um desmame (redução gradual das doses). Os imunossupressores são medicamentos que enfraquecem o sistema imune, diminuindo o seu funcionamento e portanto a resposta inflamatória auto-imune que existe no Lúpus (como o Imuran®, Endoxan ®, Cellcept®, Sandimmun®, Metotrexato®,…). Os imunossupressores são usados apenas nalgumas formas graves de Lúpus porque apresentam efeitos secundários que podem ser graves: falta de células no sangue (porque diminuem o funcionamento da medula óssea onde se formam as células do sangue) o que pode resultar em anemia e aumento do risco de infecções e hemorragias, perda de cabelo, úlceras na boca e no estômago, diarreia, problemas de fígado (semelhante à hepatite), diminuição da fertilidade (por vezes irreversível) e aumento do risco de cancro. Alguns destes efeitos secundários são pouco frequentes e podem ser evitados quando determinadas precauções são tomadas. O uso de imunossupressores implica portanto uma vigilância médica mais apertada que o habitual. No entanto, em determinadas situações, estes medicamentos são imprescindíveis e podem salvar a vida (ou um órgão) ao doente. As imunoglobulinas (Sandoglobulina®, Octagam®,…) são cada vez mais usadas em situações graves que não responderam a outras terapêuticas. Têm relativamente poucos efeitos secundários e estes são essencialmente precoces e reversíveis, dos quais uma reacção semelhante à alergia é o mais frequente (falta de ar, febre, tremores,…). Existe uma nova classe de medicamentos, cujo uso no Lúpus está ainda em fase experimental, mas que em breve promete ser uma das opções terapêuticas. Trata-se das terapêuticas biológicas (Remicade®, Enbrel®, Humira®, Rituximab,…) fármacos que são produtos da engenharia genética. TERAPÊUTICA NÃO FARMACOLÓGICA Um adequado equilíbrio entre exercício e repouso é imprescindível para um bom controlo da doença. Durante os surtos, o repouso (físico e intelectual) deve ser privilegiado. Deve ser assegurado um bom repouso/sono nocturno e períodos de repouso/sono/relaxamento durante o dia. Embora não seja habitualmente necessário abdicar das suas actividades habituais (à excepção de actividades muito cansativas), por vezes é necessário diminuir o nº de horas de trabalho e é aconselhável pedir maior ajuda à família nas tarefas domésticas. Durante os períodos de remissão é importante manter algum tipo de actividade física adequada (durante os surtos também, ainda que muito mais suave), para evitar a rigidez articular, a osteoporose, a fraqueza muscular e a fadiga (e para melhorar a função do sistema imune e o bem estar mental!). A fisioterapia e o exercício aeróbio adequado (sobretudo em água) ajudam a relaxar e a manter a função dos músculos e articulações. A fisioterapia (com o uso calor e frio) também pode diminuir a inflamação. Nestes períodos, a privação de sono sistemática pode precipitar um surto. A dieta pode ser um factor determinante sobretudo quando existe atingimento do rim. Nessas situações é importante diminuir o conteúdo de proteínas (presentes na carne, peixe, clara de ovo, leite e derivados) e de sal (sobretudo quando existe pressão arterial elevada e/ou retenção de líquidos). Os doentes tratados por longos períodos com corticóides também devem ter uma atenção especial em relação ao cálcio e à vitamina D, isto é, devem privilegiar alimentos com leite ou derivados. O resto dos doentes com Lúpus devem seguir as normas dietéticas que existem para a população em geral, nomeadamente uma dieta variada, equilibrada e saudável com abundantes vegetais, poucas gorduras, … Mais que qualquer medicamento, evitar a exposição aos raios ultravioleta (solares ou artificiais) é de extrema importância (tanto directa como indirectamente). A exposição solar pode precipitar surtos na pele mas também pode precipitar surtos nos outros órgãos (como o rim, os pulmões, …). O uso de protectores solares (com factores de protecção acima de 15) em todas as actividades ao ar livre, sobretudo durante o Verão, mas mesmo durante o Inverno nas áreas expostas é fundamental. Evitar as horas de maior exposição solar durante o Verão e o uso de vestuário adequado (mangas compridas mesmo no Verão, chapéus de abas largas, roupa de cores claras,…), também pode ser crucial. A evicção do stress tem também um papel primordial na terapêutica do Lúpus. É importante ajustar o horário laboral de modo a ser o menos “stressante” possível. Nos períodos da vida em que o stress é impossível de evitar devem tomar cuidados especiais como repousar mais e melhor e adquirir hábitos de relaxamento, … | |