O Centro Hospitalar Barreiro Montijo (CHBM) em parceria com a Escola Secundária Augusto Cabrita (ESAC) realizou, no dia 26 de Março, um ciclo de conferências, no Auditório Municipal Augusto Cabrita, no âmbito do projecto ‘(Con)Viver com a Doença Auto-imune’. Tiago Nunes, portador de uma doença auto-imune e aluno da referida escola, aconselhou a não desistir apesar do sofrimento. “A realidade da doença auto-imune é aprender a viver com a mesma”, reforçou.
Joaquim Alves Rodrigues, médico no CHBM na área da Doença Auto-imune, explicou que a doença auto-imune afecta cerca de 5% da população portuguesa e resulta de uma falha do sistema imunitário que reconhece estruturas do próprio corpo como estranhas, ordenando assim a criação de anti-corpos para as combater. O responsável acrescentou ainda que o projecto, (Con)Viver com a Doença Auto-Imune, tem como objectivo dar a conhecer aos alunos, pais, professores e população em geral a doença, sensibilizando toda a população para a criação de um grupo terapêutico.
Vera Silva, igualmente médica do CHBM, explicou que ser-se auto-imune pode envolver ser auto-imune na família, na escola e em termos profissionais. A família é constantemente alvo de inúmeras queixas e, na maioria das vezes, o doente não consegue movimentar algumas das articulações, precisando de três horas para se conseguir despachar para a escola. “Numa família onde os pais trabalham é um grande problema isto acontecer”, admitiu.
Segundo Vera Silva, as crianças com Doença Auto-Imune precisam de crescer demasiado depressa e “não podem fazer o mesmo” que os seus pares. Os amigos também se afastam muitas vezes porque é difícil ter um amigo doente, sofrendo de alterações que fazem com que o jovem se isole e não seja compreendido, aclarou ainda Vera Silva. Em termos profissionais também não é fácil, sublinhou a médica, porque o jovem tem sempre de trabalhar o dobro “mas nunca vai conseguir o mesmo” que os restantes colegas.
Vera Silva concluiu que ainda existe falta de infra-estruturas e poucos profissionais com experiências em doenças crónicas, sendo cada vez mais importante que existam profissionais nesta área.
Viver com a doença auto-imune
Para ajudar os jovens portadores desta patologia a ultrapassar as dificuldades, Tiago Nunes realizou um trabalho no âmbito da disciplina Área de Projecto que deu lugar à conferência realizada. O seu trabalho incide em três pontos: articulação e divulgação do projecto junto de toda a comunidade através de um ciclo de conferências; constituição de um grupo terapêutico para apoio de doentes e familiares, que já foi aprovado pelo Conselho de Administração do CHBM, com reuniões no próprio centro hospitalar; e, criação da ‘Associação de Doenças Auto-Imunes de Portugal (ADAP), onde os jovens possam partilhar as suas experiências e ajudarem-se mutuamente.
Tiago Nunes aconselhou a não desistir apesar do sofrimento. “Luta e ganha força de vontade só assim consegues vencer; podes não ter mais nada, mas só o facto de teres vida já tens motivo mais que suficiente para existir”, justificou, acrescentando ainda que a realidade da doença auto-imune é aprender a viver com a mesma.
Carlos Humberto, presidente da Câmara do Barreiro (CMB), salientou o papel importante que Tiago Nunes teve neste projecto em que conseguiu juntar o CHBM, a ESAC, a CMB e os jovens. O autarca acrescentou ainda que, a partir da vivência com esta doença, o jovem interveio e encontrou maneira de tentar dar um contributo. “Precisamos que os jovens tomem conta do mundo e da sociedade”, destacou.
Izabel Pinto Monteiro, presidente do Conselho de Administração do CHMB, realçou que o que se possa construir durante o ciclo de conferências sirva para acompanhar melhor e ajudar na integração “não só hospitalar, mas também na sociedade”. Para a directora clínica do CHBM, Elisabete Gonçalves, esta iniciativa foi uma prova de que a medicina e a saúde estão no caminho daquilo que é a sua missão: promover a saúde.
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